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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O Vinho, o Corte e o Bolero de Ravel

Por Gilmara Vesolli, sommelière da Casa do Vinho Famiglia Martini

Entre os clássicos da música erudita, uma das minhas músicas favoritas é o Bolero de Ravel. Adoro a forma como os instrumentos vão surgindo embora o ritmo permaneça uniforme e repetitivo durante quase todos os muitos minutos da sua execução.

A música foi composta em 1928 e tinha inicialmente a duração teórica de 14min e 10 seg. O tambor (caixa branca) inicial acompanha toda a música e dá a constância. A melodia é a mesma, variando apenas os instrumentos que a tocam. A sequência é essa:

Flauta, flautin seguido por clarinete, harpa, fagote, oboé, trompete com flauta, saxofone tenor, sopranino e soprano, trompa, novamente flautin com celesta, violoncelo, as cordas em pizzicato, oboé novamente com seu parente oboé d’amore, corne inglês e dois clarinetes, trombone, novamente flautas, flautins, de novo oboé, corne inglês e saxofone tenor, então violinos numa entrada triunfal. Depois violinos com sopros, cordas e sopros, uma mistura incalculável de tudo o que já foi dito e por fim bumbo, pratos e tam tam num surpreendente e emocionante final.

Sempre que ouço o Bolero lembro dos vinhos de corte. As semelhanças são impressionantes.

Quantos instrumentos tocados solo poderiam criar uma melodia tão forte e surpreendente quanto o Bolero de Ravel?
Alguns instrumentos podem fazer coisas incríveis sozinhos. Piano, saxofone e violino, por exemplo. Mas uma caixa branca e um prato tem toda a sua beleza expressa em uma composição em que haja outros instrumentos. Ou muitos outros, como é o caso dessa obra.

Da mesma forma o vinho de uma única uva pode ter sua grandeza e expressividade. Ou pode ter algumas ou muitas uvas que formam em conjunto uma sinfonia maior e melhor, mais marcante e duradoura.
Uma uva complementa a outra em um vinho de corte. A acidez pode vir de um conjunto enquanto os taninos vêm de outro, a cor, o álcool e o corpo, de outros conjuntos mais. 

Um bom vinho de corte é uma orquestra de uvas! E um excelente vinho de corte causa a mesma impressão final do Bolero de Ravel: surpresa e prazer.


Veja esse vídeo incrível feito na UFMG em 2005:

                            

Prove essa sinfonia:


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