Por Gilmara Vesolli, Sommelière da Casa do Vinho Famiglia
Martini
Com certa frequência as pessoas perguntam porque escolhi a
profissão de sommelière.
Costumava responder que está no meu sangue de descendente de
italianos, que bebo vinho desde criança (ou “suco” de vinho: metade água,
metade vinho e um pouquinho de açúcar até a infância passar e poder bebê-lo
puro).
Respondia que o vinho, por se tratar de um assunto infinito, por nos
colocar no nosso devido e humilde lugar, por imanar cultura, me atrai
imensamente.
Continua sendo tudo isso, claro. Mas agora eu posso resumir
em uma frase apenas: sou sommelière por causa de vinhos como o Apollonio Vigna
Vitrilli Grande 1997.
Nada do que provei até agora expressa tão bem o que o vinho
me causa. O Vitrilli é uma entidade.
Longevo, traz na memória 18 anos de um
amadurecimento memorável e o equilíbrio que só um vinho estritamente bem feito
pode ter.
Cada um dos seus incríveis 6 anos em barrica e mais um ano
em garrafa o fizeram moldar um caráter único e uma inusitada capacidade de
lembrar um Porto Vintage seco e um Amarone ao mesmo tempo.
O tempo fez com que não borras, mas coágulos de vinho se
formassem; macios, comestíveis.
Os aromas desse vinho são compostos em camadas e mais
camadas, infinitas. Pode-se passar horas
descobrindo seus sabores. E mais longos minutos com ele na boca.
Na memória ele dura para sempre, e deixa saudades.
Nunca foi tão sábia e apropriada a frase que diz que o vinho
é poesia engarrafada. E nunca me senti tão feliz em ter escolhido uma profissão
que me proporciona o prazer de beber essa poesia.
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