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quinta-feira, 14 de julho de 2016

Vinho Suave - Porque Abandonar

por Gil Vesolli, sommelière e gastróloga.

Se o seu objetivo for aprender sobre vinhos pare agora mesmo de beber os suaves.

Para não parecer puro amargor por parte de quem entende de vinhos, é necessário observar algumas coisas que a essa altura você já intuiu. A primeira delas é algum (ou muito) desdém oferecido para o não entendido quando esse menciona vinho "docinho" em alguma roda de conversa. 

Entenda uma coisa:  falar de vinho suave para pessoas com nível mais avançado de conhecimento é como perguntar a um astrônomo se as estrelas influenciam a personalidade dos indivíduos.
      
                      


Então quer dizer que vinho suave não pode ser bom? - você pode estar se perguntando indignado nesse momento. Senta que lá vem textão.

                    

Existe o "vinho bom" e o "vinho de qualidade" e um é completamente diferente do outro!
O "bom" tem mais relação com o gosto pessoal enquanto a qualidade não é subjetiva pois existem parâmetros capazes de avalia-la. Sabe aquela história de que gosto não se discute? Pois é, seu gosto por vinho docinho de fato não se discute, já a qualidade desse vinho...

Então entramos na noite escura e cheia de terrores da legislação brasileira. 

                     

Segundo ela os vinhos precisam se encaixar  em determinados padrões para serem suaves, meio secos ou secos e esses padrões têm a ver com a quantidade de açúcar residual dos vinhos. Acontece que o vinho é especialista em se desvencilhar de padrões e caixinhas tanto quanto Houdini. 

Há também os vinhos feitos com uvas viníferas (ou vitis vinifera, ou uvas européias, como preferir) e aqueles feitos com uvas americanas (ou de mesa, ou vitis americanas). O primeiro é o Vinho Fino de Mesa. Atenção para o Fino! O segundo é o Vinho de Mesa.

Também existem duas formas de interpretar o termo "suave". A primeira e mais comum é chamar de suave qualquer vinho docinho e a segunda é uma análise mais apurada e por assim dizer, profissional de atribuir ao vinho macio e fácil de beber o adjetivo de suave.

Acontece que a maioria dos vinhos suaves no sentido de "docinhos" são Vinhos de Mesa, portanto, de uvas americanas muito, muito comuns. Eles podem ter qualidade? Sim! Se comparados entre aqueles da sua própria categoria e ainda assim tenha certeza: os secos vão ganhar de lavada.

                  

Claro que existe no mercado algumas pessoas fazendo Vinhos Finos de Mesa docinhos. O que significa que eles podem ser feitos de Cabernet Sauvignon, por exemplo, a mais famosa uva vinífera.

Então esses finalmente têm qualidade?

                     

Não necessariamente, sinto informar. É difícil plantar uvas. Também é caro. Leva tempo. É mais ou menos como ter filhos. É para os fortes.
E depois que finalmente elas estão ótimas o que seria mais vantajoso para o vinicultor? Fazer um vinho seco com aquelas uvas perfeitas ou transformá-las num vinho docinho que não vai atingir o público que realmente entende vinhos, hein, hein?

Coloque aí nessa resposta mais uma informação: o açúcar esconde muito facilmente defeitos como acidez excessiva, uvas verdes, taninos ruins, folhas e gavinhas provenientes de colheita mecânica e má seleção e outros mais que forem possíveis.

Agora que essa parte está entendida, sigamos em frente.

                 

Porque abandonar o vinho docinho que você tanto gosta?
Em primeiro lugar, você não precisa, que isso fique bem claro. 
Você pode continuar bebendo seu vinho docinho que é apenas uma estrela fria entre milhares de constelações de sabores, aromas sutis, uvas exóticas, conversas alegres sobre vinho e regiões produtoras. 

                  

A dificuldade de abandonar a doçura é bem comum e tem origens bastante primitivas. Quando éramos quase macacos havia muita dificuldade em encontrar o sabor doce que dá energia instantânea, conforta e aquece. O amor pela doçura está entranhado em nosso DNA e hoje, sabe-se, o açúcar é extremamente viciante. No vinho ele tem a capacidade de esconder as sutilezas de aromas e sabores e deixar um igualzinho ao outro, matando o que há de mais precioso: sua variedade infinita.

Uma vez que você abandone os vinhos docinhos e treine seu paladar, um Um Big Bang de sensações olfato-gustativas vai acontecer depois de algum treinamento e num belo dia você apenas não vai conseguir mais entender como passou tanto tempo bebendo vinhos suaves.

                     

Agora que você já está convencido a deixar a doçura apenas no coração, é preciso começar a entender que o vinho é uma bela escada para o infinito e você vai subi-la degrau por degrau.
Não dá pra abandonar os vinhos docinhos e abrir um Barolo - tânico e ácido, disponível lá no topo. Tenha paciência. Comece com os vinhos frutados e jovens. A fruta dá uma falsa sensação de doçura na boca e é o primeiro degrau para sensações mais ricas. Lembra o que falei sobre Houdini?

Depois disso tudo vai ficar mais fácil de entender e avançar. ;)

                     


Nossas dicas para começar:








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